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18º Seminário de Contabilidade do Amapá - Perícia Contábil no Combate a Corrupção
O formato de talk show, que teve como mediador o professor universitário e servidor do Poder Judiciário do Amapá, Manoel Ambrósio Vaz Vidal, agradou a plateia composta por profissionais de contabilidade e alunos dos cursos de Ciências Contábeis, Administração e Direito, principalmente. O 18º Seminário Estadual de Contabilidade do Amapá lotou o auditório do CEAP, tendo começado por volta das 19h30 e se estendendo até as 22h30.
Em sua abordagem, o desembargador iniciou demonstrando a importância da contabilidade do sistema eleitoral, tendo em vista os acontecimentos que culminaram com o indeferimento do registro de alguns partidos no Amapá no pleito em curso, considerando a ausência de prestação de contas. “Também abordamos a influência da contabilidade em termos de perícia nos processos nos quais atua o Poder Judiciário do Amapá, sendo a contabilidade fundamental, sobretudo nesse cenário relativo aos processos de abrangência da Meta 04 do Conselho Nacional de Justiça, que envolve os crimes de corrupção”, explicou o desembargador.
O presidente do TJAP ressaltou o tema do Seminário, que evidencia o contador no escopo do processo judicial, lembrando “o papel desse profissional no cotidiano das instituições atuando nas prestações de contas, nas aferições de controle interno, na verificação preventiva dos procedimentos diários para que não haja nenhum desvio ou desconformidade, e que se execute aquilo que foi planejado e orçado”.
Também como debatedor convidado, o perito criminal da Polícia Federal da Bahia, Adilson Carvalho, trouxe sua experiência de 14 anos como profissional de investigação, tendo atuado por quatro meses, em 2015, junto à força tarefa da Operação Lavajato. Adilson ressaltou “a importância e contribuição que o profissional de contabilidade tem hoje no Brasil, auxiliando no efetivo combate da criminalidade organizada, à corrupção e à lavagem de dinheiro”.
Para o perito “o nexo do combate à criminalidade no âmbito da corrupção e da lavagem de dinheiro com a contabilidade é imediato, porque se trata de crimes essencialmente patrimoniais, de interesse financeiro, e a contabilidade é a ciência do reconhecimento, da análise dos fenômenos patrimoniais, que na criminalidade de manifesta nos crimes de colarinho branco”.
A Polícia Federal brasileira conta hoje com cerca de 200 profissionais que atuam, especificamente, com perícias contábeis e financeiras. “São profissionais concursados, que enfrentam um processo seletivo extremamente difícil, e que tem colocado sua expertise a serviço da elucidação desse fenômeno criminal que vem causando grandes prejuízos à nação, que é a corrupção e a lavagem de dinheiro”, enfatizou o perito. Disse ainda que “eventos como esse contribuem para o esclarecimento do grande público, principalmente para profissionais e a acadêmicos de Ciências Contábeis, que podem ter acesso a essas informações e, eventualmente, se reconhecerem vocacionados para desenvolver suas atividades no âmbito do combate à criminalidade”.
O presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Amapá, Emílio Sérgio de Oliveira, disse que “a responsabilidade dos profissionais de contabilidade aumenta cada vez mais porque os principais procedimentos de controle interno e externo foram criados dentro das Ciências Contábeis”. De acordo com sua opinião, “sendo uma classe formadora de opinião, os contabilistas devem mostra para sociedade que ela pode confiar no seu trabalho, contribuindo com o controle social”.
Emílio Sérgio chamou atenção para a necessidade de constante atualização nos conteúdos programáticos dos cursos de Ciências Contábeis. “Hoje temos diversos programas que vieram para ficar, como E-Social (programa que veio sintetizar as informações da área trabalhistas em um só sistema); DCTF Web (Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais Web, uma ferramenta acessória que visa facilitar a declaração de contribuições e tributos para a Receita Federal), entre outros. Por isso nós profissionais e as faculdade precisamos nos adaptar a essa nova realidade”, disse.
“O sonho de muitos profissionais de contabilidade é integrar os quadros da perícia criminal, como na Polícia Federal, por exemplo. A Contabilidade oferece muitas possibilidades de ajudar nesse combate a fraudes, nossa formação também é voltada para isso”, declarou o presidente do CRC. No âmbito da prevenção, “o controle interno, tem que atuar como instrumento de gestão e a contabilidade como alicerce da gestão”, finalizou Emílio Sérgio.
Coordenador do curso de Ciências Contábeis do CEAP, o professor Salomão Dantas considera que essa área de conhecimento “tem se tornado cada vez mais fundamental e tem recebido a importância que merece como instrumento para a transparência e para a investigação”. Como ferramenta que gera informações, as ciências contábeis possuem técnicas que possibilitam identificar o percurso percorrido pelos recursos, possibilitando a detecção de fraudes e erros.
Sob o aspecto da presença de profissionais de contabilidade nas instituições públicas, o professor afirma que “o Brasil já avançou muito, mas ainda não chegou ao patamar ideal”. Segundo ele, “algumas funções dentro do serviço público ainda não foram regulamentadas por lei, que especifique o trabalho do contador, o que leva a pessoas assumirem papeis e funções que deveriam ser exclusivos dos contadores”. O Amapá tem hoje cerca de 3.400 contadores, mas, segundo o professor Salomão, o mercado ainda comporta mais profissionais para essa que demonstra ser uma profissão em ascensão no país.
- Macapá, 10 de outubro de 2018 -